O CONDOMÍNIO EM ATIBAIA


Vista aérea do Condomínio Recanto das Flores, Bairro do Portão, Atibaia/SP - (Google Maps 2014)

A FILA ANDA

O terreno que não comprei



Escrever uma história real, mesmo que resumida, faz com que mergulhemos em memórias onde uma lembrança vai puxando outra e, inevitavelmente, algumas emoções vão sendo revividas. O processo requer uma pré-disposição quase que masoquista, para encarar as frustrações de um tempo que não voltará mais e não poderá ser mudado. As lembranças, no entanto, ganham vida como se fosse hoje.

Vale a pena deixar o presente passar enquanto se visita o passado? Sinto que ainda tenho o que explorar, afinal, nenhum outro tempo foi para mim tão intenso de sentimentos e autodescobertas.

Se por um lado exercitei o desapego de minha vida antes daquele tempo, hoje reconheço o quanto me apeguei e continuo apegado a um período de transição que foi interrompido.



Ao buscar uma foto aérea do condomínio a fim de ilustrar a história, me surpreendi ao ver que o terreno onde eu realizaria meu projeto tem agora duas casas construídas, germinadas, como se pode ver na foto, sufocadas entre muros e sufocando a pequena casa ao lado onde morei e sonhei.

Reconheço que meus sonhos ficaram presos a um tempo e lugar; mesmo que atualmente eu pudesse comprá-los, não seriam mais os mesmos. Esta fila também andou... Uma remota esperança se desfaz. 

Definitivamente, aquele sonho, projeto e planta não se realizarão. Por que haveria eu de realizá-los, após tanto tempo? Não sei. É preciso acordar para substituir os velhos sonhos que adormeceram na impossibilidade de realizá-los.

Aquele pedaço de terra, aquela montanha onde a lua nasce como um grande sol noturno cor de laranja ao anoitecer, nunca me pertenceram e jamais me pertencerão, senão em minhas memórias. O passado... é isso.


A angústia do escritor que escreve a sua vida é saber que jamais poderá escrever o final da sua própria história.



© Gutto Carrer Lima
BLOGBOOK - Morando no Carro


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